sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Poliana

Hoje eu conheci um menino que me pareceu muito simpático. Achei ter arrumado um novo amigo. Já conhecíamos nos há cerca de uma semana e havia eu julgado ele ser excelente companhia. Hoje saímos para conversar e o tal menino conseguira (em quarenta e cinco minutos!) provar-me que eu estava errada. Minhas suspeitas levantadas até agora:
a.) Ele recebe árduas aulas de teatro, fez a encenação da vida dele e está agora a rir-se de mim.
b.) Ele detestou a mim e fez de tudo para me fazer sentir repulsa à sua pessoa.
c.) Ele é, por natureza, alguém deprimente.
Sim, estou me utilizando de diversos exageros, sem contar que o figura ao qual me refiro está sendo caricaturizado  por minhas hipérboles incessantes. Mas creio que seja isto aqui necessário, pois tornará (creio eu) um pouco mais impactante a minha narrativa.
Finalizando a sessão para explicações, prossigamos:
Conheci este garoto no meu curso de inglês. Ele disse que era extremamente tímido e não gostava de ir à escola. Tanto o era, que não ia mesmo. Nunca tinha ido, para falar a verdade. Recebia todos os trabalhos e testes em casa, "sem necessidade" de comparecer às aulas. Confesso que fiquei um tanto pasma com tal declaração, além de ter ficado preocupada até certo ponto, sendo que o cara tinha 15 anos (como assim, ele NUNCA foi à escola??). De qualquer maneira, marcamos de nos encontrar um dia desses. Por acaso foi hoje. Ao ficar quarenta e cinco minutos (de relógio) a conversar com ele, os tópicos de assunto foram:
-A irmã (realmente) psicopata dele que o tentou matar sufocado dentro de um guarda-roupas quando ele tinha dois anos.
-A vez em que a avó dele tentou cometer suicídio.
-O dia em que ele quebrou o braço da própria mãe (de propósito) por ela ter levantado o tom da voz com o cachorro rottweiler dele (ele me contou isso sorrindo, sem hipérboles agora).
-O único ano em que ele foi à escola e se juntaram quatro alunos para bater nele, ele denunciou os quatro, estes foram expulsos, e a diretora, demitida.
-Quando ele bateu na irmã mais velha dele (a psicopata).
-A vez em que ele mandou demitir quatro psiquiatras por não conseguirem resolver o problema de "ansiedade" dele.
-O dia em que ele perdeu mil dólares em Las Vegas num cassino.
Os assuntos não foram introduzidos exatamente nessa ordem. Mas a questão é: cheguei em casa com nojo da vida, deprimida completamente. Eu pensava como tantas coisas ruins poderiam acontecer na vida de uma pessoa de uma vez só. Me deu uma baita vontade de ajudá-lo, de fazê-lo sentir-se melhor, não sei. De fazer alguma coisa. Eu tentei falar isso com ele, algo do tipo "hey, mas por que você não conversa melhor com a sua mãe, sabe? Talvez você não devesse fazer isso com ela, afinal, ela é sua mãe, não é?" Mais ou menos foi isso o que foi por mim dito, logo sendo eu obrigada a mudar de assunto por ser respondida a gritos dizendo ele não ter nada de errado nisso e que a mãe estava sendo "arrogante" com ele. Bom, terminamos de conversar, eu fui para casa. Tomei um belo banho para purificar-me de tamanha negatividade. Às vezes eu acho que Poliana é um livro que deveria ser lido por mais gente.
PS.: Querem um conselho? De minha humilde opinião, acho que o segredo para uma vida bem-vivida é, sem dúvida alguma, a felicidade. Sejamos todos felizes e gentis. Quem procura acha.Quem procura o ponto negativo, sempre acha. Mas quem procura sempre o lado bom e a gentileza, acha também! Então, meus caros, sejamos pessoas alegres, plantemos flores! Ao plantá-las, colhemos cores, perfume e alegria (sim, isso pode parecer-lhes muitíssimo brega, mas a Ingrid aqui continua acreditando nisso). Beijos a todos.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Réstia de luz

Não ainda tenho certeza de o que estou aqui a fazer. De certo delirando, ou algo do gênero. Algo tranquiliza-me nisso tudo. Inexplicável, mas algo tranquiliza-me. Talvez quem sabe achar que você está a ler isto e achando bobo, ou está a ler isto e sentindo pena, não mais sei. Achar que você está a ler basta. O "você" ao qual me refiro diz respeito a alguém que se pode incluir no escasso grupo de gente que possui minha profunda estima, afeição carinho(amor?), enfim. Dê o substantivo que achares melhor.  Alguém que se pode incluir em referido grupo, mesmo que não o saiba. Outrora, citados substantivos foram mais intensos. Sempre em minha confusa cabeça, claro. Queria eu saber ao exato o que pensas de mim. Muito me angustia tal questão. Me gostas? Me odeias? Ou algo que está no meio? És à minha presença indiferente? Não sei!, ora pastéis. Por isso tavez ache eu que estou a delirar. Certamente o estou a fazer agora. De qualquer maneira, muito eu queria que lestes isso. Que falasse a mim o que pensas, sem medo de rejeições, ou abjeções ou receios (quem possui tais medos sou eu!). Sinto nostalgias. Do teu conversar e linguajar encantadores, teus olhos cor-de-água-marinha, dos teus traços faciais, que são perfeitos, do teu sorriso que me faz rir também, das tuas mãos canhotas a escrever intermináveis letras de música, de tudo enfim. Sindo falta tua. Muita falta. Achei que pôr-me a escrever faria-me sentir mehor. Talvez o tenha feito. Não sei ainda. Pôr-me-ei a dormir em instantes. Para variar, sonharei contigo. Uma réstia de luz vem da cozinha. Já é bem tarde. sem mais o que fazer. Escrevo saudades, faço de conta que você está a ler. Boa noite.

Viagem de escola

Iam para Rio Grande, no Rio Grande do Sul. Um grupo de estudantes. Alguns professores (suicidas) voluntários e o pessoal da companhia de viagens. Seis horas dentro de um ônibus quase menor do que uma MiniVan. A turma de sexta série cantava, gritava, pulava, saía de seus assentos. Os professores, ignorados, tentavam inutilmente manter alguma paz. A viagem prosseguiu assim. Quando chegaram, cada um pulou logo em suas malas e as bagagens e as chaves dos quartos. Lá chegando, Duas amigas pularam quase uma emcima da outra. Uma pestilência, uma nuvem, dezenas de moscas voavam perto das camas. Tinham, as duas, medo se quer de se aproximar. Uma delas teve uma ideia. Desodorante em spray. Borrifaram algumas vezes nos insetos, que, estonteados, alguns morreram, outros deixaram o local, batendo sempre nas partdes, nas janelas, nas lâmpadas, ou o que quer que fosse. O telefone do quarto tocou. Eram suas amigas, do quarto ao lado. Queriam saber como livravam-se das moscas. Assim, o desodorante em spray passou de mão em mão até quase chegar ao fim. Voltou à bolsa da dona, finalmente. Depois de visitar inúmeros museus de história natural, cada qual com acervos mais interessantes, regressaram ao hotel. Pois bem, os professores decretaram que era 'hora de dormir' (seis e meia da tarde). Houve revolta. Os alunos quase se amotinaram. Não havia argumentos suficientes. Foram todos dormir às seis e meia da tarde. Sete horas da noite. Todos em suas respectivas camas. Ninguém dormindo. Oito e meia. Ainda em suas camas. Ninguém dormindo. Nove. Ninguém dormindo. Dez e quarenta e cinco. Três alunos dormindo, restam cento e  noventa e sete. Duas alunas, de quartos vizinhos, tiveram a brilhante ideia de se comunicar atravéz so código Morse. Uma delas descobriu existir uma passagem de um quarto a outro pela varanda. Poderiam passar de um para outro sem chamar a atenção dos professores, que passariam a noite em claro vigiando os corredores do hotel. Naturalmente, em vão.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Janela

"Não, não é possível. Quisesse o acaso que minha pessoa morresse antes. Dois meses atrás, para conter este recado alguma precisão. Há dois meses atrás, eu tinha acabado de ir ao show mais espetacular de minha vida (Macca, my love, I'm so sorry). Tinha um homem tão perfeito junto de mim, me fazia acreditar ser realmente amada. Tinha amigos e me divertia com eles, fazíamos-nos muito bem mutuamente, sempre. Tirava notas boas na escola, quase sempre. Era boa para meus pais e para meu irmão mais novo. Eu fazia-lhes bem. Não tinha maiores preocupações, levava perfeita vida. Todos viveriam melhor assim. Muito melhor. Há dois meses atrás, eu tinha a plena certeza de seguir uma carreira, mudar-me para o exterior, tornar-me respeitada profissional. Ser boa para todos, fazer o bem na medida que me fosse possível. Isso foi há dois meses atrás. Agora (o que direi de agora?) o acaso me desgraçou, não me quer mais. Não tenho mais certeza de que raios carreira quero seguir. O show ao qual fui não me causa mais tanto êxtase ao passar-me (vagamente, devo dizer) pelas lembranças. O homem ao qual amei, não quer-me mais, alimentara ele às minhas ilusões e esperanças a seu respeito. Não mais falamo-nos. Perco um namorado, um parceiro, um irmão e um amigo, todos na mesma pessoa. Os amigos aos quais eu fazia bem, não mais possuo-me de tal dom. Sou agora companhia perturbadora, irritante, não mais agradável como outrora. Um de meus amigos optou pelo homossexualismo por minha culpa, por minhas bobagens. Caço brigas com minha família, sou pessoa rancorosa, amarga. Minhas notas obtiveram declínio recorde, ainda mato meus pais de desgosto. Poderia perfeitamente o acaso fazer-me da vida o quinto dos infernos, mas sem a capacidade de percebê-lo. Não, o acaso é nefasto e maquiavélico. Transforma-me a vida nisto e fecha-a com chave de ouro, dando-me a capacidade de perceber o quão nociva estou sendo a todos de quem tenho conhecimento. Pior, até. Poderia o acaso dar-me fim à vida há exatos sessenta dias atrás. Todos se lembrariam de mim como a namorada, a amiga, a filha, aluna e irmã a quem muitos gostavam. Não. Morrendo agora, serei a que um dia foi querida. Percebo minha desgraça, portanto, aqui vão algumas verdades cujas quais muitos necessitam ter conhecimento:
 - O homem ao qual amei (quem conhece-me de perto sabe de quem se trata), continuo a amar, mesmo que não mais sendo correspondida. ... , não te desesperes, amei-te da maneira com a qual julguei melhor. Peço desculpas por não mais ter falado contigo. Amo-te.
-Meus amigos queridos e família. Passei os últimos tempos desdenhando de vós, tratando-os como não mereciam, sem autoridade nenhuma para me basear em. Lembrem-se de mim tal como eu era antes de virar este monstro, lembrem-se de mim como ''a garota que sorri'', ou como queiram. Adoro-os todos e não me vim a demonstrar. Não sei o que há comigo.
-Aos professores: sim, sou desleixada, deveria ter estudado mais, me esforçado mais, teria tirado notas melhores se me restasse alguma alegria na alma. Desculpem.
Tendo tais sentimentos devidamente expressados, nada mais me resta, nada mais me prende. Não se entristeçam, por favor. Eu não me valho de nada"
Assim foi encontrada uma carta manuscrita no quarto de Anna. A janela estava aberta.

sábado, 9 de julho de 2011

Violino

Da cama, ele ouvia o som do chuveiro ligado. Aborrecia-se. Era, de nascença, homem rancoroso. Subitamente, ouvia algo diferente do som das gotas caindo. Ouvia... Será? Será mesmo?... Um violino! Haveria um violino no banheiro? Ficou confuso. Abriu lentamente a porta para ver o que se passava. Não havia violino algum. Não era nada que não a voz dela, a melodiar e dançar por entre as gotas d'água. Algo parecia-lhe estranho, não parecia ela a mesma. Naquela situação, naquele contexto, a lavar os cabelos e cantarolar tão linda música com voz de violino, ele sentia-se menos aborrecido. Mais... mais... como diria?  Mais apaixonado. Não o vira, ela estava de costas, dentro do box, a lavar os negros cabelos. Cantava. Mais uma vez, ela não parecia a mesma. Parecia-lhe mais bonita, mais meiga do que quando entrara por sua porta. Era linda demais para parar de se observar. Então, por não conseguir, observou-a no banho, de costas, atá que ela terminasse. Chegado tal momento, Ela se virou para desligar a torneira. Berrou.
-O que faz aqui? Fora! Fora!
-Ei, calma, mulher. -respondeu tremendo- qual é o problema? Não acabamos de nos amar faz 10 minutos? Qual o problema de eu te ver no banho?
-Não temo pelo meu corpo, crápula. Temo pela minha voz, não é a ninguém permitido que me ouça cantar -Mas por que, vadia? Então por que você cantava logo na MINHA casa, no banheiro que EU te cedi?-começava a enfurecer-se.
-Porque me agradou a ideia, enfim, não lhe interessam os motivos. Obrigada pelo banheiro, agora me dê o que me pertence.
-Quer dizer o dinheiro? Eu não te paguei extra pra me chamar de crápula, sua p*** de m****.
-Nem eu vim aqui às seis da manhã pra você me chamar de vadia e me ouvir cantar. Estou indo embora.
-Ei, calma. É que eu estava me sentindo sozinho, você tem agenda para essa semana ainda?
-Já te falei, cobro caro e tenho agenda lotada. Não te quero ver nunca mais. Me dê o dinheiro.
-E por que você fala assim, complicado? Nunca vi nenhuma do seu tipinho falar assim.
-Escute, meu bom senhor, eu faço mestrado e tenho uma filha de dois anos para criar por minha conta. Não falo complicado, apenas leio muito e disponho de vocabulário. Estou neste emprego porque me cabe, porque ninguém me oferece nada melhor. Eu nunca consigo nada melhor. Faço isso para ganhar algum dinheiro para pagar as contas, o mestrado e a escola da minha filha. Não tenho família alguma, alguns morreram num desmoronamento há dois meses e os outros se foram num tiroteio tentando defender meu primo, que vivia do tráfico. Moro num casebre com minha filha numa comunidade aqui perto. Eu realmente preciso desse dinheiro. Ainda mais de alguém como você, para quem esse dinheiro não vale nada.
-Por que você me disse isso? E onde aprendeu a cantar?
-Te disse isso para quem sabe você me deixasse ir embora, não te interessa onde aprendi a cantar, me dê o dinheiro, raios!
Ele se enfurece de súbito e acerta-lhe com a mão fechada, com anéis de brilhantes no dedo mínimo. Ela se levanta rapidamente, já tendo se vestido e pego suas coisas.
-Me dê logo esse dinheiro e me deixe ir embora!
-Se não o quê, querida? Você me bate?
-Não, não te bato, não faço nada. Você é o terceiro que não me paga nesta semana. Estou começando a fazer fama de fraca no mercado, agora é que a minha renda despenca de vez. Não me aceitam nunca num emprego, qualquer que seja, por conta de meu histórico e de minha condição social. Não me pague, se não te agradei o suficiente. Tenho que ir para casa, minha filha está sozinha desde que eu, desgraçada, vim para essa mansão de que dispõe o senhor. Se sua mulher descobrir sobre hoje, óptimo, eu estarei na universidade. Assim que terminar o mestrado, farei doutorado e pós-graduações, quem sabe no exterior. Tenho metas de ganhar bolsas de estudo e verbas, poderei viver delas enquanto me livro deste reles lixo que é o meu emprego atual. Pode me bater, faça isso. Muitos já o fizeram. Não me importo, se não me quiseres pagar, há outros que pagam. E muito bem.
O homem encontrava-se em estado de choque, não ousava responder. A mulher avançava nele como uma leoa. Ele, com o rabo entre as pernas.
-Tchau, senhor, não ouse chamar-me novamente.
Ia bater a porta atrás dela, quando o homem a puxou pelo braço. Ao ver seu rosto novamente, lembrou-se de quando a viu no banho. Apaixonou-se de novo pela meiga mulher que havia visto debaixo do chuveiro fazia pouco.
-Escute, não se preocupe se eu te ouvi cantar, não vou falar pra ninguém. Toma, pode ficar com isso. Pra mim não faz diferença.
-Mas é mais do que combinamos.
-É um extra. Isso é pela noite, e mais isso pra você e pra sua filha.
-Certo, obrigada. Estou indo. Tchau.
Fechou a porta da casa e foi embora. O homem foi à janela e acompanhou-a com o olhar, até que sumisse no horizonte. O sol raiava.
Nunca mais se viram, o homem pediu divórcio de sua mulher. Até hoje ele escuta, de vez em quando ao longe, uma voz de violino cantando a primeira suíte de Bach, e cai de amores pela mulher mais maravilhosa que já conhecera.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Amor2

Era incapaz. Queria, queria, mas não adiantava. Era incapaz de amar. Nem aos próprios pais, nem ao irmão, nem a ninguém. Não chorava em filmes, nem mesmo em funerais. Não se sentia nervosa ao estar perto de ninguém (tal como descrevem os apaixonados o amor), chorava apenas por raiva. Nunca por tristeza, nem por amor. Achava ser ela desprovida de sentimentos, tal como um robô. Não conseguia amar. Via lados bons, claro. Sendo incapaz de amar, não sofria desilusões de mesma natureza, não se cegava perante a magnificência fictícia que é, a ela,  a paixão. Via a tudo com a maior racionalidade possível. No entanto, sonhava sempre à noite sobre como seria "o sentir". Chorar num filme, por amor, sentir calor no peito ao se aproximar, sequer pensar, em alguém. Seria maravilhoso. Concluiu finalmente que precisava de uma definição para 'amor'. O problema não estaria nela se todos, na realidade, tivessem os mesmos 'não-sentimentos' que ela, maquiando-os através de hipócritas encenações cotidianas. Perfeito, tendo a definição de amor em mãos, saberia exatamente se amava ou não. Questão: o que é amor? Amava aos pais? Sim. Ao irmão? Claro. Mas não sentia por eles nada de diferente com relação às outras pessoas. Amava-os porque eram sua família. Todos eles faziam tudo, por ela, o que lhes fosse possível. Davam-na carinho, colo, comida, teto, educação, tudo o que sempre quisera. Tal afeição não tem como ser retribuída. Por isso, achava ser obrigatório, achava correto amá-los. Mas normalmente, passa-se por tal reflexão antes de se amar? Pelo que lhe disseram, 'amor' é algo irracional, não se pensa nem se reflete, unica e somente se ama. O amor se basta, não se apoia em dados, quanto mais no uso da razão. Ela o fazia, mas poderiam todos fazê-lo em seu interior, iludindo-a para que pensasse não saber amar. Continuava sem a sua preciosa definição sobre o que é o amor. Caso um dia encontrasse-a talvez, pela primeira vez se apaixonasse. Pelo amor.

domingo, 3 de julho de 2011

-Sem Título2-

Um alien aterrisa a sua pequena nave na terra. Logo, aprende a língua dos humanos e faz amizade com um homem, que se encarrega de mostrá-lo todos os costumes terrestres. Um belo dia, ambos resolvem ir à praia. Lá cheando, se daparam com uma quantidade absurda de lixo espalhado por todos os cantos. O homem exclama:
-Mas não é possível! Esses garis são todos uns preguiçosos que não fazem nada da vida. Olha como está a nossa praia! Mas que absurdo isso!
O alien olha para o homem, confuso, e diz:
-Eu não entendi. São os garis quem jogam o lixo na praia?

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Devaneio.

Não seria maravilhoso poder voltar no tempo? Poder ler mentes? Poder voar? Poder parar o tempo?

Mas agora pergunto-lhes: para que isso tudo? O mundo já não é fantástico do jeito que é? Sim, claro. Mas há horas em que dá uma danada vontade de voltar no tempo e fazer tudo certo, corrigir as besteiras. De saber tudo o que todos pensam para finalmente se convencer de que não é só você quem pratica (ou pensa) esquisitices nesse mundo. De abrir um par de asas brancas, tais como as de anjo, e defenestrar-se para planar sobre a cidade, ver as coisas do alto, sentir-se livre de tudo. De parar o tempo e conferir a resposta alheia num teste, pensar melhor no que dizer a alguém, andar por aí, sabendo-se que tem todo o tempo do mundo para aproveitar o dia...

Ter super-poderes nessas horas não parece-me algo ruim.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Ensaio sobre aranhas e formigas

Lhe agradam as aranhas? Ora pois. Outro dia perguntei-me: aranhas comem formigas? Nunca vi aranha alguma com formigas enroladas em sua teia. Algo estranho. Pensei comigo: se eu pegar uma formiga, que carrega seu pequeno pedaço de folha para o formigueiro e atirá-la à aranha, será que esta irá se interessar? Por outro lado, não seria muito justo que eu tirasse uma formiga de seu trabalho e assassinasse-a desse jeito. Afinal de contas, não cabe a mim decidir a vida de pobre formiguinha. No entanto, o inseto não tem esse juízo de valores, até onde se sabe. Logo, ''tanto faz'' para a formiga se eu atirá-la ou não à aranha. Se tivessem as formigas (se não é que tem) tal juízo, sim, seria injusto. Mas ''justo'', é um conceito humano, não pode ser aplicado a formigas ou aranhas. Nem umas nem outras tem consiência do ''bom'' ou do ''mau'', possuem apenas um instito, um impulso. Será? Pego a formiguinha que agora anda singela em minha mão. Tão delicada. Seria correto atirá-la à aranha? Não, não seria. Definitivamente não cabe a mim, por mero capricho, matar tal formiguinha. Não seria justificável. ''Existem tantas formigas no mundo'' disseram, ''que diferença faz matar umazinha ou duas?''. ''Oras - respondo - claro que faz diferença. Se pensarmos segundo o mesmo princípio, assasinatos humanos também seriam justificáveis: 'existem tantos humanos no mundo, que há de acontecer se matar um ou dois deles'?'' O mundo está infestado de humanos, bem como de formigas, que trabalham, constroem, trabalham, trabalham. Tudo isso por um chamado ''bem maior'', que, no caso, seria o formigueiro, a estrutura central que mantém as formigas juntas sob o mesmo ''teto'', por assim dizer. O mundo está infestado de formigas. São tantas, tantas, tantas. Seria melhor se livrássemos o planeta de tal peso.O mundo infesta-se cada vez mais de formigas e de humanos. Não faz mal matar uma só. Pego a formiga. Atiro-a à aranha. Esta, predadora, salta e envolve a formiga em teia. Não lhe serve como alimento, joga a bolinha de teia que foi a formiga fora. Não, humanos não são tão parecidos com formigas, elas vivem em harmonia umas com outras, cooperam, obedecem sempre que lhes cabe, respeitam-se. Humanos não são como formigas, precisamos de mais delas e de menos de nós. Olho para a teia. A aranha coloca-se novamente no centro esperando outra presa, uma mosca, talvez. Olho ao chão, a bolinha de teia. Arrependo-me.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Piano

Tanto que é lindo
O piano bem tocado.
Passados anos,
Uma sinfonia
Erradia.
Errada ia,
Anda Vadia
Embalada pelo teclado.

Um piano bem tocado,
Suave melodia:
Mela o dia
De um amor encantado.

Nada mais me encanta,
Nada mais me maravilha,
Nada alegra o meu dia
Do que um piano bem tocado.

Sinfonia,
Linda cantouria
De um piano entusiasmado.
Toca a noite e toca o dia
Um piano bem tocado.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Para pensar. . .

Alguns lemas valiosos, são pensamentos que, em minha opinião, valem a pena serem ouvidos e refletidos.

-Ficar sentado de braços cruzados esperando um milagre acontecer simplesmente não dá certo. Quer um milagre, filho? Seja o milagre!
-Pense muito melhor antes de dizer qualquer coisa a qualquer um, reflita sempre seus atos, não economize nunca nos pedidos sinceros de desculpas nem na gentileza.
-Aceite sempre tudo de bom que a vida lhe propor, aproveite o dia, a vida é bela!
-Põe quanto és no mínimo que fazes.
-Seja você mesmo/a sempre. Acredite em mim, você não vai se arrepender.
-Procure nunca falar mal dos outros pelas costas. Muito menos na cara. Aliás, nunca fale mal dos outros, procure nem pensar mal dos outros. Entenda o lado deles. São eles, como você, seres humanos. E eles, como você, erram.
-Seja humilde sempre, mas quando lhe cabe, brilhe!
-Tenha cara-de-pau. Fale com as pessoas, não tenha medo. O mundo não acaba por causa disso!
-Pense mil vezes antes de fazer uma piada sobre alguém. Embora não pareça, isso ofende.
-Deixe de empurrar os sonhos com a barriga e corra atrás deles, alcance-os, crie novos sonhos, voe alto, seja feliz. Só se vive uma vez.
-Só porque chove, não significa que o dia esteja ruim. Dance na chuva!
-Pense na sua vida como um geral. Pense mesmo sobre tudo. Depois reflita 'sou feliz?' Caso seja, continue assim, pense sempre e somente na sua felicidade e na dos seus amigos. Caso não, pense no que falta para atingir essa felicidade (não valem bens materiais!) e corra atrás disso com toda a sua força. Ser feliz é uma virtude. Não deixe essa virtude ir embora.
Tenha um excelente dia! =)

Amor

Ela está no escuro, no quarto. A janela aberta, uma noite nublada. Nublada como seus olhos, desiludidos. Chora lágrimas doloridas, lágrimas de sangue. Descem o rosto fino e pálido de bochechas outrora rosadas. Chora baixinho, receando que ouçam. O tempo está frio, tanto quanto sua pele branca, o vento entra numa rajada dentro do quarto. Retira os cabelos do rosto. Cai um raio. Vai chover. Abraça com força as pernas encolhidas. Está magra, já de dias sem comer, de meses comendo mal. Descem as lágrimas. É uma noite fria. Dorme finalmente.
No dia seguinte, acorda, já sem angústias no peito. Seu rosto inchado pelas lágrimas, rapidamente volta ao normal, suas faces são novamente rosadas. Come bem novamente. Não é mais frio, lindo amanhecer vê-se pela janela. Sorri. Quer cantar. Rodopiando ela sai, fazendo festinhas e cafunés ao gato, recém-acordado. O vento levanta a saia da camisola, de tanto que ela roda. Parece uma flor. Roda ela de feliz. Passa assim a manhã.
Chegada a tarde, volta ao estado de antes. Abraçada ao gato, cai em prantos, é frio novamente. Por quê? Por quê?
É noite. Faz a si um prato de penne ao pesto. Não ri nem chora. Pensa somente. Dorme depois em meio a desenhos, cobertas e letras de músicas, coberta de devaneios.
Manhã seguinte. Ainda pensativa, anda em círculos. Volta-lhe a angústia. Não lhe restam dúvidas. De certeza, está apaixonada.

sábado, 21 de maio de 2011

Carpe Diem!

É engraçado quando se sente feliz sem motivo algum. Tudo te faz feliz. Se faz sol, contempla-se o astro-rei, a magnânima beleza de suas luzes e cores, os olhos brilham. Se chove, canta-se na chuva, dança-se na rua, se sorri a todos, os olhos também brilham. Tudo é motivo de alegria. Encara-se a vida como algo belo, maravilhoso. Somem-se os problemas, todos eles. Quer-se cantar, assobiar, rir de si mesmo, andar saltitando. Se é dia, olha-se ao céu, com ou sem nuvens. Se se está feliz, mesmo nublado, vai-lhe o céu parecer bonito. Se é noite, olha-se as estrelas. Caso haja nuvens, vê se as luzes da cidade, as próprias nuvens, que são bonitas, o mundo é belo. Louco é quem me diz, que não é feliz. Carpe Diem!

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Para pensar. . .

Existe morte após a vida?
Existe vida após a morte?

Engano

-Ah, mais uma coisa que eu tinha esquecido. Traz também aquele seu caderno de desenhos que eles vão adorar.
-Perdão?
-Aquele caderno de desenhos. Uma cadernetinha que você fica rabiscando. Seus desenhos são uma graça.
-Como assim?
-Bri, aquele caderno que você não larga nunca, sabe? Traz ele.
-Não, isso eu entendi, mas quem está falando?
-Dona Bri, não se faça de desentendida que você sabe quem é. Eu só liguei de novo pra falar do caderno.
-Olha, sinto lhe dizer, mas acho que você ligou para o número errado.
-Quê?
-Você queria falar com uma Bri, não? Não tem ninguém com esse nome aqui, desculpe.
-Quê? Como assim? Eu ligo para esse número há anos, não é da casa da Bri? Sabrina Fernandes, ninguém com esse nome mora aí?
-Não.
-Ah, não, não é possível. Eu estava falando com a Bri há cinco minutos atrás, daí eu desliguei. Só que eu tinha esquecido de falar sobre o caderno, então liguei de novo para o mesmo número. Tem certeza de que não é da casa da Bri?
-Como assim ''tem certeza''? Claro que eu tenho certeza. Eu moro sozinha com esse número de telefone há pelo menos dois anos. Nenhuma Sabrina mora aqui.
-Calma. Pra que número eu liguei?
-2445-9838.
-Ah, certo o número da Bri é 2455-9838. Entendi. Disquei errado, opa, foi mal.
-Hehe.
-Me diz uma coisa, sua voz parece a de uma pessoa legal, qual é o seu nome?
-!?... Ahnn... Meu nome é Gabriela.
-De que?
-Gabriela dos Anjos.
-Que nome lindo. O meu é Bruna Rodrigues, tenho 22 anos. Prazer.
-Prazer, Bruna. Tenho 25.
-Escuta, Gabriela, só por curiosidade, onde você mora?
-Rua 19 de Abril, virando à esquerda na Marques Dias.
-Uau, sério? Fica a uma quadra de onde eu moro. Moro na Gonçalves Pereira.
-Ah, é perto mesmo. Agora, uma pergunta. O que você queria com o caderno da Bri? Agora fiquei curiosa.
-Ah, é que estávamos combinando de sair com uma galera no final de semana. São uns amigos meus que a Bri não conhece. Eles todos desenham muito bem, achei que fossem se dar bem com ela. Os desenhos da Bri são fantásticos.
-Nossa, que coencidência. Eu trabalho com design e desenho bem(eu acho). Também tenho um caderno pra fazer uns rabiscos que não largo nunca.
-Gabriela, me diz uma coisa...
-Me chama de Gabi, não gosto de Gabriela, muito formal.
-Ok. Gabi, você não queria sair com a gente? Podemos nos encontrar na sua casa que eu levo a Bri e o pessoal pra te conhecer.
-Seria ótimo. Que dia?
-Na sexta, essa próxima, às duas e meia, mais ou menos, estávamos indo a um cinema de rua que reabriu semana passada depois de uma reforma.
-O Ludvig?
-Esse.
-Nossa, eu ia lá direto, tem uns filmes muito bons.
-Eu também, como foi que a gente não se encontrou ainda?
-Não sei.
-Sexta então, às duas e meia?
-Exato.
-Qualquer coisa, Bruna, já tem o meu número.
-Haha, Ok. Você tem o meu, né, Gabi? Seu telefone grava números?
-Grava sim.
-Então beijo, até sexta.
-Até.
(chick...tu...tu...tu)
(trrrrriiim...trrrrrriim...trrrrriim)
-Alô?
-Ah, Bruna, eu esqueci, tenho compromisso na sexta até as três. Tem como ser um pouco mais tarde?
-Desculpa?
-Tem como a gente combinar um pouco mais tarde? Eu tenho aula na sexta até as três. Podemos combinar o cinema um pouco mais tarde?
-Olha, me desculpa, mas não tem nenhuma Bruna aqui. Eu acho que você ligou para o número errado...

quarta-feira, 23 de março de 2011

-Sem Título-

O doce cheiro dele a invade. Ela não pensava em mais nada. Em nada mais acreditava, nada mais via. Só via ele, chamando. Inútil seria qualquer tentativa de acordá-la das nuvens. Só via ele.
Quando efetivamente se viram, ambos coraram, havia muita gente falando em volta. Ela tinha vergonha de falar. Cada gesto, cada palavra, tinha significado, lembrava uma história, uma piada dos dois, qualquer coisa que fosse. Tudo tinha significado. O doce cheiro dele, que agora está perto, a invade novamente. Por que tanta gente em volta? Por que só não os dois? No dia anterior, roubara-lhe um beijo (ou dois, ou três...). Pensava ela: Aconteceu mesmo? Não fora imaginação? Só pode ser fantaisa. Será? Ela queria que não. Se bem que encontrava-se tão cega que já nem sabia mais distinguir o que realmete acontecera do que ela queria que tivesse acontecido. Queria eternamente estar em seus braços. Receber seus acalentos e beijos. Seria verdade? Seria mesmo? Não, não podia. Era bom demais. Aulas, aulas, aulas. Por que não consegue prestar atenção? Por que só consegue pensar em seu doce cheiro, que a invade? Em seus olhos azuis, que chamam?

sábado, 12 de março de 2011

Manhã de sábado

Naquela manhã, o vento brincava. Andava por aí, bagunçava cabelos, cantava, dançava. Entrava o vento nas casas com janelas abertas, tocava todos os sinos, fazia farfalhar as folhas das árvores. Brincava o vento. Naquela manhã, era cedo, o sol parecia ter acordado de bom-humor. Espreguiçava-se da melhor maneira que podia, provocando um ''amanhecer dramático'', cheio de luzes e cores, cheio de alegria. Numa pequena janelinha em que o vento, brincando, entrara, uma menina jovem acordava. Não era costume, mas naquela manhã, acordava antes dos pais. Ouvia Peer Gynt¹ da maneira mais doce e linda. Balançava a cabeça suavemente ao sabor da música, quase que própria para a ocasião. Fechava os olhos para ouvir melhor. Abria-os novamente, contemplava o amanhecer. Que dia bonito. O vento entra brincando novamente, passa por um pequeno beija-flor de madeira pendurado em sininhos sobre a janela da menina, anunciando que estava lá o vento, brincando. Alguns fechavam as janelas, não a menina. O vento passara para brisa. Que mexia agora delicadamente nos cabelos ruivos dela. Seu rosto, com muitas sardinhas e olhos verdes, fechava-os novamente, para ouvir a música e deixar que a brisa mexesse em seus cabelos encaracolados. Contemplava aquela linda manhã de sábado. Que, tão inexplicavelmente, tão insignificantemente, era maravilhosa, linda, leve, alegre para todos. Naquela manhã, o vento brincava. O vento brincava.

1. Peer Gynt - Obra do compositor lírico Edvard Grieg, aqui segue a parte principal da música, para os que quiserem ouvir.
Beijos

sexta-feira, 11 de março de 2011

Carnaval Veneziano

O Carnaval de Veneza, bem como o do Brasil, é mundialmente conhecido. Apesar de tal, também é muito diferente. Em Veneza ninguém samba no Carnaval, ninguém ouve marchinhas, nem segue blocos. Os venezianos, no Carnaval, usam majestosas máscaras diferentes das nossas, com detalhes dourados, plumas, entre outros enfeites, muitas vezes com estampas de partituras e notas musicais. Possuem eles, um ritual de dança, que inclui roupas específicas para a ocasião, imensas fantasias com vários tipos de panos, detalhes, etc. Como sei disso? Sei disso porque sou um gato. Um gato veneziano que adora assistir ao Carnaval. Já me falaram muito do Carnaval brasileiro, deve ser lindo.Um dia ainda vou para lá. Acho que é uma das únicas épocas do ano em que as pessoas sorriem, dançam, esquecem suas diferenças e preconceitos, e tudo o mais. Enfim, nós, gatos, também festejamos o Carnaval aqui em Veneza. É muito divertido: pescamos alguns peixes no canal e os preparamos de um jeito ótimo. É esse o nosso ''banquete'' de Carnaval. Também daçamos muito como os humanos. Chegada a noite, cantamos para a lua, e, por fim, vemos os humanos desfilarem. Pena que dure tão pouco o feriado de Carnaval. Fora o Natal, acho que é raro as pessoas se ajudarem, serem solidárias umas com as outras, se protegerem e sorrirem e festejarem e dançarem sem motivo. Assim sendo, acho que poderia ser Carnaval o ano inteiro. Não pelas festas, mas pelos sentimentos.
Feliz Carnaval!

domingo, 9 de janeiro de 2011

Para ser Grande - Fernando Pessoa

Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

De:Jorge Para:Aline

Aline, querida ex-aluna.
Me lembro muito bem de você. Da sua personalidade e do seu jeito engraçado, embora não do seu rosto. Você se mudou para o Rio? Achei que fosse para São Paulo. Bom, devo ter confundido. O que ando lendo? Olha, são tantos os livros acadêmicos que tenho que ler para o trabalho que acho que quase não sobra tempo para os contos e crônicas. Quanto a eles, partilho de sua opinião. Há alguns realmente muito bons, embora eu não os escreva como você. Mas um livro realmente bom que eu estou lendo e recomendo, é "Intermitência da morte" do Saramago. Muito bom. Outro dele muito bom também é "Ensaio sobre a cegueira", mas este é um pouco angustiante e até assustador, acho melhor você deixá-lo para mais tarde. "Guerra e Paz" do Leo Tolstoy é também um livro fantástico. Mas também acho que deve ler mais um pouco antes de chegar neste. Quanto à preocupação do e-mail, sim, sou eu o Jorge, porfessor de Alemão e Prtuguês do Sinodal. Por aqui vai tudo bem, monótono, mas bem. Muito bom te reencontrar, Aline. Eu nunca fui ao Rio, mas quando for, procurarei fazer-te uma pequena visita.
Abraços
o grande professor Jorge.

De:Aline Para:Jorge

Oi Jorge. Não sei se você ainda lembra de mim, fui sua aluna na 6a. série. Você me dava aulas de português. Achei o seu email por acaso e fiquei com saudades. Pode ser também que eu esteja escrevendo para o Jorge errado. Se você não fizer a mínima ideia do que eu estiver falando, me desculpe, eu devo ter confundido o email. Mas e então? Como está você? Eu estou morando no Rio de Janeiro. Acho que vou morar por aqui por um bom tempo. A cidade é linda, vale a pena conhecer (já esteve no Rio?). Eu continuo adorando aulas de português. Adoro escrever contos e crônicas, mas, infelizmente só nos mandam escrever dissertações por aqui. Textos acadêmicos sem um pingo de fantasia nem criatividade. Não gosto muito deles. O que você anda lendo? Digo, lendo por interesse, como passatempo. Eu estou, no momento, completamente me entregando aos encantos de Sir Arthur Conan Doyle. Estou no segundo livro de Sherlock Holmes e não consigo nem respirar enquanto não terminar. Paralelamente a isso, leio também e adoro os livros de Ítalo Calvino. Li ano passado, pela primeira vez, 'O Visconde partido ao meio'. Adorei. Estou lendo agora dele 'O Barão nas árvores'. e 'O Cavaleiro inexistente' já está na minha lista de leitura para as férias. Se você tiver alguma recomentação literária pra mim, adoraria.
Bom, acho que é isso o que eu ando fazendo da minha vida no momento. Lendo, escrevendo crônicas, ah, e desenhando muito. Não sei se você lembra, mas você me chamava a atenção mil vezes durante a aula pra eu parar de desenhar. Hehe, eram muito legais as suas aulas, sinto saudades do meu grande professor Jorge.
Abraços e muitas saudades
Aline

PS.: Lembrando, se você não é o Jorge, professor de Alemão e Português do sinodal e não fizer ideia do que eu escrevi acima, peço mil desculpas, pois, na lista que eu recebi, tinham pelo menos três emails com o nome "Jorge@sinodal".

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Táxi

-Para onde, senhora?
- Rua 1 de Março n° 37, por favor.
-Certamente.
(23 minutos depois, nenhuma palavra trocada entre o taxista e sua passageira)
- Chegamos, madame. Ajuda com a mala?
-Não, não precisa. Eu levo. Obrigada, senhor. Aqui, o dinheiro. Pode ficar com o troco.
-Obrigado, senhora. Boa tarde.
-Boa tarde.
(Outros passageiros, um casal)
-O táxi está livre?
-Está sim. Para onde os levo?
-Bairro Jardim Florença, em frente ao café.
-Certo.
-O dia está bonito, não é?
-Está sim -responde o taxista- até ontem chovia, mas agora parece que vai ficar ensolarado até sexta.
-Que bom, vamos passar o fim de semana na praia, né amor?
-Sim, minha linda. Será que a Ana Adelaide não se importa que fiquemos com a casa dela por esses tempos?
-Claro que não. Ela vai viajar amanhã, lembra?
-Ela tinha dito que podíamos 'pegar a casa emprestado', eu sei. Mas mesmo assim...
-Ah, você se preocupa de mais. Relaxa, amor. Vai dar tudo certo. Moço, pode deixar agente aqui.
-Ok.
-Aqui, quanto ficou?
-Vinte e cinco e cinquenta.
-Tá bem, vinte e cinco e cinquenta. Amor, você tem vinte centavos?
-Hmmm, não tenho não.
-Eu só tenho vinte e cinco e trinta aqui. Tudo bem, moço?
-Tudo, não esquenta com isso
-Tá certo então
-Tchau moço, boa tarde.
-Boa tarde, boa estadia na praia.
-Muito obrigado.
-Tchau.
-Tchau.
(Uma mãe e uma filha. Esta chorando desoladamente)
-Calma, querida. tá tudo bem, mamãe tá aqui.
-Pra onde, senhora?
-Para o centro. Em frente ao museu histórico.
-Ok.
(a menina continuava a chorar)
-Calma, meu amor. Vai passar.
-O que houve, senhora?
-Ah, ela caiu e ralou o joelho. Tadinha, parece que o corte foi fundo.
-Senhora, se a senhora conseguir alcançar, no porta-luvas eu acho que tem um pacote de band-aids que pode ajudar.
-Onde?
-No porta-luvas. Não posso tirar a mão do volante, mas se a senhora conseguir pegar...
-Tá certo.
-Ei, calma, mocinha -o taxista para a menina- o que aconteceu?
-Eu tava antando ... -a menina, entre soluços- eu tava andando na rua, daí eu cai no chão e fiz esse machucado.
-Hummm. Mas você tem sorte, deveria estar feliz.
-Porque?
-Porque você tem a sua mãe aqui para te ajudar no que você precisar sempre. E mais, sempre que agente cai, agente tem que saber se levantar e aprender a não cair mais. E se cair denovo, agente levanta de novo. Qual é o seu nome, mocinha?
-Marina -a menina já parava de chorar
-E você já sabe ler, Marina?
-Não, ainda não.
-Bom, então pede pra sua mãe ler um livro pra você chamado 'Poliana'. É a história de uma menina que nem você. A Poliana ensina os outros a sempre ser feliz e ver o lado bom das coisas. É uma história muito bonita.
-Ah, achei os band-aids -disse a mãe
-Aqui, filinha, deixa que a mamãe põe pra você.
-Mamãe, lê Poliana pra mim?
-Poliana? É uma historia linda, eu li quando era pequena.
-O moço falou que é uma menina que nem eu e ela ensina as pessoas a serem felizes.
-É isso mesmo. O senhor conhece Poliana?
-Conheço sim senhora. É uma das histórias mais bonitas que eu já li. Bem, acho que as senhoritas ficam aqui.
-Ficamos sim. Muito obrigada. Aqui o dinheiro.
-Obrigado, senhora. Boa tarde.
-Boa tarde.
-Ah, Marina, não se esquece do que eu te falei, tá? Sempre que agente cai...?
-Agente levanta e aprende a ser feliz não cair mais.
-Isso mesmo. Tchau! Até mais.
-Tchau moço.
(Saem as duas, a menina agora rindo e pulando, de mãos dadas com a mãe)
-Linda menina, um doce de criança -comenta para si mesmo
-Alô Táxi 00604 -chama o walkie-talkie
-Alô, estou aqui.
-Temos um passageiro na zona oeste para ser levado ao aeroporto internacional. o endereço exato vai ser enviado pelo GPS.
-Certo, estou indo.
(O táxi demora alguns minutos para chegar, quando chega, um homem grisalho com duas malas a seu lado faz o sinal para o Taxi parar)
-Boa tarde, senhor. Deixa que eu levo as malas.
-Obrigado. Quanto fica daqui ao aeroporto?
-Acho que uns trinta e cinco, por ai. Mas eu cobro o que der no taximetro.
-Ta bem.
-Prefere que eu pegue a Santos Dumont, ou passe pela 5 de Maio?
-Pega a Santos Dumont, tem menos transito a essa hora.
-Ok.
-O senhor viaja pra onde?
-Vou passar uma semana em Barcelona para um congresso de medicina.
-Hmm. Interessante. O senhor trabalha em que area?
-Genetica.
-Entendo. Qual o seu nome, senhor? Acho que o reconheço de algum lugar...
-Meu nome e Marco-Antonio Dantas.
-Oh, sim. O conheço. Minha afilhada fez uma pesquisa junto com o senhor. Ela trabalha no mesmo lugar.
-Sua afilhada e a Ana Isabel?
-Isso mesmo.
-Ah, sim. Conheço ela. Um amor de menina, muito simpatica.
-A Ana fala muito do senhor. Diz que e inteligente, estudado, muito simpatico tambem. Ela diz que tem inveja da sua familia por ter alguem tao especial.
-E, antes fosse. Moro sozinho. Minha vida se resume ao meu trabalho mesmo.
-O senhor nunca quis se casar? Ter alguma companhia, entende?
-Querer eu sempre quis, mas nunca achei ninguem de quem gostasse.
-Que pena. O senhor deveria pensar nisso. Se nao quiser ir muito rapido, compre um cachorro. E uma otima companhia. Eu por exemplo, moro assim por anos da minha vida assim.
-Sim, sim. E que eu viajo muito, nem tem como cuidar de um cachorro com a vida que eu tenho.
-Entendo. Bem, quando o senhor voltar do congresso, fale comigo. Meu telefone esta no cartao do taxi ai atras. Eu tenho alguns amigos de quem o senhor com certeza vai adorar. Sao gente muito boa. Agente combina de sair um dia desses.
-Sera um prazer. Ah, eu fico aqui. Obrigado.
-De nada.
-Quanto deu?
-Vinte e quatro e sessenta.
-Humm. Aqui esta.
-Obrigado. Boa viagem, senhor Dantas.
-Obrigado, ate mais.
-Ate.
(sai o passageiro do taxi, o taxista faz o retorno e pega o caminho para o centro novamente. Começa a escurecer.)
(Meia hora depois, um grupo de pessoas chama o taxi)
-Boa noite. Para onde?
-Ah, sei la!
-Sei la nada -responde outro- agente nao ia para a praça da alvorada?
-De onde agente ia para a praça? Agente ia e para o centro.
-Shhhhhhhh!!! Nao façam barulho eles podem ouvir -diz um terceiro.
-Eles quem?
-Po, nao faco ideia, mas eles podem ouvir mesmo assim.
(Caem todos na risada. O taxista observava atentamente a conversa do grupo. Visivelmente estavam todos bebados)
-Com licenca, para onde os senhores vao?
-Para a casa do Fabio! -diz um.
-E. Para a casa do Fabio -responde o outro.
-Onde fica  a casa do Fabio? -Pergunta o taxista.
-Rua Rosas de Mello, n°334.
(Pelo caminho, o taxista nao troca um palavra com o grupo. Ja eles, conversam, berram, dancam, brigam, riem.)
-Aqui, chegamos -diz o taxista.
-Beleza. Vem gente.
(Todos sairam do taxi e correram em direçao a casa.)
-Espera! Falta o dinheiro! -Gritava o pobre taxista.
-Aeh! Ta aqui, toma.
-Ok. Aqui o troco.
(Nem adiantava mais. O grupo ja estava longe.)
-Ei! O troco! Faltou o troco!
(O grupo ignorou. O taxista tentou correr atras deles, inutilmente)
(Agora dirigindo pelas ruas vazias, o taxista ligou o walkie-talkie)
-Alo. Aqui e o taxi 00604. Algum trabalho pra mim?
-Alo taxi 00604. Nao, acho que nao. Essa hora a cidade nao tem muita gente. Pode ir pra casa.
(Voltando para casa, o taxista encontra uma mulher atravessando a rua com as maos no rosto. Chorando. O taxi freia violentamente procurando nao atingir a mulher. O taxista para o carro ao lado dela.)
-Ei, moça. E perigoso atravessar a rua assim. Pode acontecer um acidente. Tome cuidado, viu?
-E o que você tem haver com isso? -pergunta violentamente a mulher.
-Nada absolutamente nada, so me preocupei com a senhorita.
-E quem disse que eu preciso da preocupaçao alheia? Se um carro me atropelasse, seria otimo!
-Nao, nao diga isso. Que coisa horrivel de se dizer.
-E isso mesmo.
-Mas porque a senhorita esta tao nervosa? O que aconteceu?
-Ah, N...Nada. Nao e da sua conta.
-Ta bem, se nao quiser falar, nao precisa. Escuta, se quiser, eu estou indo para a zona leste. Posso lhe oferecer uma carona.
-Nao, obrigada. -responde a moça, secamente.
-Ta bem, entao. Se cuide. Boa noite.
(Assim que o taxi arrancou e andou alguns poucos metros. a mulher comecou a correr atras dele, gritando)
-Ei! Espera! Para o carro!
-Que foi, senhorita?
-Mudei de ideia, quero a carona sim. Pode parar perto do teatro municipal. Moro la perto.
-Certamente.
-Moço...
-Sim, senhorita?
-Porque me ofereceu a carona?
-Porque você parece um pouco nervosa, quis ajudar de alguma maneira.
-Mas porque?
-Como assim?
-Porque voce esta me ajudando, assim, de graca?
-Porque nao deveria? Tudo que você faz de bom para os outros, volta pra você. Bem como tudo o que voce faz de mal para os outros tambem volta.
-Ah, tomara que isso seja verdade.
-Porque, senhorita?
-Eu estava voltando pra casa com uma amiga minha quando vieram uns caras e nos assaltaram. Levaram minha bolsa, meu carro, meu dinheiro, minha chave, tudo. Nem sei mais o que fazer.
-Ei, calma, senhorita. Tem uma delegacia aqui perto. Se quiser, eu te deixo la para prestar queixa.
-Você faria isso?
-Com certeza, e aqui perto. Ja estamos chegando.
(minutos depois)
-Chegamos.
-Obrigada.
-Disponha. Se quiser, eu te espero aqui para te levar para casa depois.
-Ai, muito obrigada moço, nem sei como agradecer.
(alguns minutos depois, a mulher sai da delegacia)
-Eles disseram que assim que tiverem noticia dos meus pertences, eles ligam.
-Que bom. Aposto que eles acham tudo em menos de uma semana.
-Tomara.
-A senhora mora aonde, exatamente?
-Do lado do teatro municipal, e um preido amarelo.
-Aquele ai?
-Sim, sim. Aquele. Muito obrigada, moço, nem sei o que dizer.
-De nada, que isso. Sempre que precisar, estou as ordens, senhorita.
-Obrigada, boa noite.
-Boa noite.
               O taxista chega em casa, tira os sapatos. O cachorro vem fazer-lhe festinhas saudando sua chegada, como de costume. O taxista, faz carinho no cachorro, vai a cozinha, pega uma xicara de café. Liga a TV, assiste a alguns programas, tesliga a TV, toma um banho, poe os chinelos. Comeca a chover. O taxista desliga as luzes, vai dormir. O cachorro o acorda, aterrorisado com os relampagos. O dono o acaricia, o acalma, e volta a dormir.
-Tenho que trocar de profissao -pensava- Fico cheio de angustias com os meus passageiros, sera que essa chuva vai estragar o fim de semana do casal que ia para a praia? Sera que a mae da Marina leu Poliana para ela? Sera que ela gostou? E se o senhor Dantas ficar o resto de sua vida sozinho? Que triste. Os jovens bebados, sera que ficaram bem? A senhorita da bolsa, tomara que consiga recuperar tudo o que perdeu.
               E foi pensando nisso que o taxista, homem preocupado, homem honesto, homem bom, pegou no sono e dormiu.


PS.: Por favor, nao reparem na falta de acentuacao no conto. O Computador em que este foi escrito é estrangeiro. Na verdade, ocomputador tem alguns criterios (ate agora por mim desconhecidos) de selecao meio malucos. Ele acentua algumas palavras automaticamente, mas outras ele simplesmente ignora. Ainda nao entendi a ideolocia dessa maquina aqui, mas enfim. Nao reparem por favor.
Beijos

sábado, 1 de janeiro de 2011

Fogos de artifício

Numa praia de Copacabana, dia último do ano. Era difícil reconhecer quem quer que fosse no meio te tanta gente de branco. Estimava se o número de 2 milhões de pessoas ali juntas, num único aglomerado entre o calçadão e o mar. Iemanjá dava a todos o ar de sua graça. De quando em vez, molhava uns e outros com enormes ondas. A Deusa das águas enfeitava-se se cobrindo de rosas, palmas brancas, lírios e copos-de-leite que lhe eram oferecidos. Na areia, próximo ao mar, um pai e uma filha, de aparentes quatro anos e cabelos cacheados. Ele levando-a carinhosamente e segurando-a pela mão, perguntava se conseguia ver algo. Triste, a menina respondeu que não. O pai então, num ato quase de super-herói, pegou a filha no colo e colocou-a sobre os ombros. A menina agradecia beijando-lhe a testa. Perto deles, um casal com um cachorro. Ambos felizes, comemorando o novo início. O cachorro pulava nos dois, contaminado pela felicidade. Latia, espalhava areia, lambia, pulava nos dois, que riam da vida. Um grupo de jovens, sob efeito do álcool, cantava, se abraçava, ria. Eram cerca de seis ou sete os adolescentes. Reparavam numa menina sentada na areia perto deles. Ela parecia triste, quase chorava. Se juntaram a ela, convidaram gentilmente para festejar com eles. Ela foi. Começaram a conversar, tornaram-se amigos e logo riam juntos. E foi nesse encanto, nessa junção de várias situações de pessoas estranhas, comemorando juntas, algumas pagavam promessas, outras bebiam, várias se abraçavam. Todas as luzes se apagaram. Os postes, prédios, holofotes, tudo. As balsas, no meio do Oceano Atlântico, costeando a praia de Nossa Senhora de Copacabana, começaram a explosão. O céu, antes escuro, cinzento e nublado, agora via-se iluminado pelos fogos coloridos. Alguns tinham o formato de coração, outros, de carinhas sorridentes, outros, eram apenas fogos de artifício normais. Normais, porém mágicos, encantados. Os fogos enchiam o céu. E não só ele, como os olhos de quem os via. Todos comemoravam a chegada do ano novo. Depois de algum tempo da queima de fogos, começou a chover. Ninguém se importava, todos comemoravam. O pai com a filha sobre seus ombros, o casal com o cachorro, a moça, que agora, comemorava junto com seus novos amigos. E tantos outros casais que se beijavam, amigos que se abraçavam, famílias que pulavam, todos comemoravam juntos uma data de recomeço, tudo novo, tudo alegre, tudo em paz. Todas aquelas pessoas unidas ali, numa esplendorosa queima de fogos de artifício que, de tão magnífica e maravilhosa, parecia não ter fim. Feliz 2011.