Naquela manhã, o vento brincava. Andava por aí, bagunçava cabelos, cantava, dançava. Entrava o vento nas casas com janelas abertas, tocava todos os sinos, fazia farfalhar as folhas das árvores. Brincava o vento. Naquela manhã, era cedo, o sol parecia ter acordado de bom-humor. Espreguiçava-se da melhor maneira que podia, provocando um ''amanhecer dramático'', cheio de luzes e cores, cheio de alegria. Numa pequena janelinha em que o vento, brincando, entrara, uma menina jovem acordava. Não era costume, mas naquela manhã, acordava antes dos pais. Ouvia Peer Gynt¹ da maneira mais doce e linda. Balançava a cabeça suavemente ao sabor da música, quase que própria para a ocasião. Fechava os olhos para ouvir melhor. Abria-os novamente, contemplava o amanhecer. Que dia bonito. O vento entra brincando novamente, passa por um pequeno beija-flor de madeira pendurado em sininhos sobre a janela da menina, anunciando que estava lá o vento, brincando. Alguns fechavam as janelas, não a menina. O vento passara para brisa. Que mexia agora delicadamente nos cabelos ruivos dela. Seu rosto, com muitas sardinhas e olhos verdes, fechava-os novamente, para ouvir a música e deixar que a brisa mexesse em seus cabelos encaracolados. Contemplava aquela linda manhã de sábado. Que, tão inexplicavelmente, tão insignificantemente, era maravilhosa, linda, leve, alegre para todos. Naquela manhã, o vento brincava. O vento brincava.
1. Peer Gynt - Obra do compositor lírico Edvard Grieg, aqui segue a parte principal da música, para os que quiserem ouvir.
Beijos
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