"Não, não é possível. Quisesse o acaso que minha pessoa morresse antes. Dois meses atrás, para conter este recado alguma precisão. Há dois meses atrás, eu tinha acabado de ir ao show mais espetacular de minha vida (Macca, my love, I'm so sorry). Tinha um homem tão perfeito junto de mim, me fazia acreditar ser realmente amada. Tinha amigos e me divertia com eles, fazíamos-nos muito bem mutuamente, sempre. Tirava notas boas na escola, quase sempre. Era boa para meus pais e para meu irmão mais novo. Eu fazia-lhes bem. Não tinha maiores preocupações, levava perfeita vida. Todos viveriam melhor assim. Muito melhor. Há dois meses atrás, eu tinha a plena certeza de seguir uma carreira, mudar-me para o exterior, tornar-me respeitada profissional. Ser boa para todos, fazer o bem na medida que me fosse possível. Isso foi há dois meses atrás. Agora (o que direi de agora?) o acaso me desgraçou, não me quer mais. Não tenho mais certeza de que raios carreira quero seguir. O show ao qual fui não me causa mais tanto êxtase ao passar-me (vagamente, devo dizer) pelas lembranças. O homem ao qual amei, não quer-me mais, alimentara ele às minhas ilusões e esperanças a seu respeito. Não mais falamo-nos. Perco um namorado, um parceiro, um irmão e um amigo, todos na mesma pessoa. Os amigos aos quais eu fazia bem, não mais possuo-me de tal dom. Sou agora companhia perturbadora, irritante, não mais agradável como outrora. Um de meus amigos optou pelo homossexualismo por minha culpa, por minhas bobagens. Caço brigas com minha família, sou pessoa rancorosa, amarga. Minhas notas obtiveram declínio recorde, ainda mato meus pais de desgosto. Poderia perfeitamente o acaso fazer-me da vida o quinto dos infernos, mas sem a capacidade de percebê-lo. Não, o acaso é nefasto e maquiavélico. Transforma-me a vida nisto e fecha-a com chave de ouro, dando-me a capacidade de perceber o quão nociva estou sendo a todos de quem tenho conhecimento. Pior, até. Poderia o acaso dar-me fim à vida há exatos sessenta dias atrás. Todos se lembrariam de mim como a namorada, a amiga, a filha, aluna e irmã a quem muitos gostavam. Não. Morrendo agora, serei a que um dia foi querida. Percebo minha desgraça, portanto, aqui vão algumas verdades cujas quais muitos necessitam ter conhecimento:
- O homem ao qual amei (quem conhece-me de perto sabe de quem se trata), continuo a amar, mesmo que não mais sendo correspondida. ... , não te desesperes, amei-te da maneira com a qual julguei melhor. Peço desculpas por não mais ter falado contigo. Amo-te.
-Meus amigos queridos e família. Passei os últimos tempos desdenhando de vós, tratando-os como não mereciam, sem autoridade nenhuma para me basear em. Lembrem-se de mim tal como eu era antes de virar este monstro, lembrem-se de mim como ''a garota que sorri'', ou como queiram. Adoro-os todos e não me vim a demonstrar. Não sei o que há comigo.
-Aos professores: sim, sou desleixada, deveria ter estudado mais, me esforçado mais, teria tirado notas melhores se me restasse alguma alegria na alma. Desculpem.
Tendo tais sentimentos devidamente expressados, nada mais me resta, nada mais me prende. Não se entristeçam, por favor. Eu não me valho de nada"
Assim foi encontrada uma carta manuscrita no quarto de Anna. A janela estava aberta.
terça-feira, 5 de julho de 2011
Amor2
Era incapaz. Queria, queria, mas não adiantava. Era incapaz de amar. Nem aos próprios pais, nem ao irmão, nem a ninguém. Não chorava em filmes, nem mesmo em funerais. Não se sentia nervosa ao estar perto de ninguém (tal como descrevem os apaixonados o amor), chorava apenas por raiva. Nunca por tristeza, nem por amor. Achava ser ela desprovida de sentimentos, tal como um robô. Não conseguia amar. Via lados bons, claro. Sendo incapaz de amar, não sofria desilusões de mesma natureza, não se cegava perante a magnificência fictícia que é, a ela, a paixão. Via a tudo com a maior racionalidade possível. No entanto, sonhava sempre à noite sobre como seria "o sentir". Chorar num filme, por amor, sentir calor no peito ao se aproximar, sequer pensar, em alguém. Seria maravilhoso. Concluiu finalmente que precisava de uma definição para 'amor'. O problema não estaria nela se todos, na realidade, tivessem os mesmos 'não-sentimentos' que ela, maquiando-os através de hipócritas encenações cotidianas. Perfeito, tendo a definição de amor em mãos, saberia exatamente se amava ou não. Questão: o que é amor? Amava aos pais? Sim. Ao irmão? Claro. Mas não sentia por eles nada de diferente com relação às outras pessoas. Amava-os porque eram sua família. Todos eles faziam tudo, por ela, o que lhes fosse possível. Davam-na carinho, colo, comida, teto, educação, tudo o que sempre quisera. Tal afeição não tem como ser retribuída. Por isso, achava ser obrigatório, achava correto amá-los. Mas normalmente, passa-se por tal reflexão antes de se amar? Pelo que lhe disseram, 'amor' é algo irracional, não se pensa nem se reflete, unica e somente se ama. O amor se basta, não se apoia em dados, quanto mais no uso da razão. Ela o fazia, mas poderiam todos fazê-lo em seu interior, iludindo-a para que pensasse não saber amar. Continuava sem a sua preciosa definição sobre o que é o amor. Caso um dia encontrasse-a talvez, pela primeira vez se apaixonasse. Pelo amor.
domingo, 3 de julho de 2011
-Sem Título2-
Um alien aterrisa a sua pequena nave na terra. Logo, aprende a língua dos humanos e faz amizade com um homem, que se encarrega de mostrá-lo todos os costumes terrestres. Um belo dia, ambos resolvem ir à praia. Lá cheando, se daparam com uma quantidade absurda de lixo espalhado por todos os cantos. O homem exclama:
-Mas não é possível! Esses garis são todos uns preguiçosos que não fazem nada da vida. Olha como está a nossa praia! Mas que absurdo isso!
O alien olha para o homem, confuso, e diz:
-Eu não entendi. São os garis quem jogam o lixo na praia?
-Mas não é possível! Esses garis são todos uns preguiçosos que não fazem nada da vida. Olha como está a nossa praia! Mas que absurdo isso!
O alien olha para o homem, confuso, e diz:
-Eu não entendi. São os garis quem jogam o lixo na praia?

sexta-feira, 1 de julho de 2011
Devaneio.
Não seria maravilhoso poder voltar no tempo? Poder ler mentes? Poder voar? Poder parar o tempo?
Mas agora pergunto-lhes: para que isso tudo? O mundo já não é fantástico do jeito que é? Sim, claro. Mas há horas em que dá uma danada vontade de voltar no tempo e fazer tudo certo, corrigir as besteiras. De saber tudo o que todos pensam para finalmente se convencer de que não é só você quem pratica (ou pensa) esquisitices nesse mundo. De abrir um par de asas brancas, tais como as de anjo, e defenestrar-se para planar sobre a cidade, ver as coisas do alto, sentir-se livre de tudo. De parar o tempo e conferir a resposta alheia num teste, pensar melhor no que dizer a alguém, andar por aí, sabendo-se que tem todo o tempo do mundo para aproveitar o dia...
Ter super-poderes nessas horas não parece-me algo ruim.
Mas agora pergunto-lhes: para que isso tudo? O mundo já não é fantástico do jeito que é? Sim, claro. Mas há horas em que dá uma danada vontade de voltar no tempo e fazer tudo certo, corrigir as besteiras. De saber tudo o que todos pensam para finalmente se convencer de que não é só você quem pratica (ou pensa) esquisitices nesse mundo. De abrir um par de asas brancas, tais como as de anjo, e defenestrar-se para planar sobre a cidade, ver as coisas do alto, sentir-se livre de tudo. De parar o tempo e conferir a resposta alheia num teste, pensar melhor no que dizer a alguém, andar por aí, sabendo-se que tem todo o tempo do mundo para aproveitar o dia...
Ter super-poderes nessas horas não parece-me algo ruim.

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