- Rua 1 de Março n° 37, por favor.
-Certamente.
(23 minutos depois, nenhuma palavra trocada entre o taxista e sua passageira)
- Chegamos, madame. Ajuda com a mala?
-Não, não precisa. Eu levo. Obrigada, senhor. Aqui, o dinheiro. Pode ficar com o troco.
-Obrigado, senhora. Boa tarde.
-Boa tarde.
(Outros passageiros, um casal)
-O táxi está livre?
-Está sim. Para onde os levo?
-Bairro Jardim Florença, em frente ao café.
-Certo.
-O dia está bonito, não é?
-Está sim -responde o taxista- até ontem chovia, mas agora parece que vai ficar ensolarado até sexta.
-Que bom, vamos passar o fim de semana na praia, né amor?
-Sim, minha linda. Será que a Ana Adelaide não se importa que fiquemos com a casa dela por esses tempos?
-Claro que não. Ela vai viajar amanhã, lembra?
-Ela tinha dito que podíamos 'pegar a casa emprestado', eu sei. Mas mesmo assim...
-Ah, você se preocupa de mais. Relaxa, amor. Vai dar tudo certo. Moço, pode deixar agente aqui.
-Ok.
-Aqui, quanto ficou?
-Vinte e cinco e cinquenta.
-Tá bem, vinte e cinco e cinquenta. Amor, você tem vinte centavos?
-Hmmm, não tenho não.
-Eu só tenho vinte e cinco e trinta aqui. Tudo bem, moço?
-Tudo, não esquenta com isso
-Tá certo então
-Tchau moço, boa tarde.
-Boa tarde, boa estadia na praia.
-Muito obrigado.
-Tchau.
-Tchau.
(Uma mãe e uma filha. Esta chorando desoladamente)
-Calma, querida. tá tudo bem, mamãe tá aqui.
-Pra onde, senhora?
-Para o centro. Em frente ao museu histórico.
-Ok.
(a menina continuava a chorar)
-Calma, meu amor. Vai passar.
-O que houve, senhora?
-Ah, ela caiu e ralou o joelho. Tadinha, parece que o corte foi fundo.
-Senhora, se a senhora conseguir alcançar, no porta-luvas eu acho que tem um pacote de band-aids que pode ajudar.
-Onde?
-No porta-luvas. Não posso tirar a mão do volante, mas se a senhora conseguir pegar...
-Tá certo.
-Ei, calma, mocinha -o taxista para a menina- o que aconteceu?
-Eu tava antando ... -a menina, entre soluços- eu tava andando na rua, daí eu cai no chão e fiz esse machucado.
-Hummm. Mas você tem sorte, deveria estar feliz.
-Porque?
-Porque você tem a sua mãe aqui para te ajudar no que você precisar sempre. E mais, sempre que agente cai, agente tem que saber se levantar e aprender a não cair mais. E se cair denovo, agente levanta de novo. Qual é o seu nome, mocinha?
-Marina -a menina já parava de chorar
-E você já sabe ler, Marina?
-Não, ainda não.
-Bom, então pede pra sua mãe ler um livro pra você chamado 'Poliana'. É a história de uma menina que nem você. A Poliana ensina os outros a sempre ser feliz e ver o lado bom das coisas. É uma história muito bonita.
-Ah, achei os band-aids -disse a mãe
-Aqui, filinha, deixa que a mamãe põe pra você.
-Mamãe, lê Poliana pra mim?
-Poliana? É uma historia linda, eu li quando era pequena.
-O moço falou que é uma menina que nem eu e ela ensina as pessoas a serem felizes.
-É isso mesmo. O senhor conhece Poliana?
-Conheço sim senhora. É uma das histórias mais bonitas que eu já li. Bem, acho que as senhoritas ficam aqui.
-Ficamos sim. Muito obrigada. Aqui o dinheiro.
-Obrigado, senhora. Boa tarde.
-Boa tarde.
-Ah, Marina, não se esquece do que eu te falei, tá? Sempre que agente cai...?
-Agente levanta e aprende a ser feliz não cair mais.
-Isso mesmo. Tchau! Até mais.
-Tchau moço.
(Saem as duas, a menina agora rindo e pulando, de mãos dadas com a mãe)
-Linda menina, um doce de criança -comenta para si mesmo
-Alô Táxi 00604 -chama o walkie-talkie
-Alô, estou aqui.
-Temos um passageiro na zona oeste para ser levado ao aeroporto internacional. o endereço exato vai ser enviado pelo GPS.
-Certo, estou indo.
(O táxi demora alguns minutos para chegar, quando chega, um homem grisalho com duas malas a seu lado faz o sinal para o Taxi parar)
-Boa tarde, senhor. Deixa que eu levo as malas.
-Obrigado. Quanto fica daqui ao aeroporto?
-Acho que uns trinta e cinco, por ai. Mas eu cobro o que der no taximetro.
-Ta bem.
-Prefere que eu pegue a Santos Dumont, ou passe pela 5 de Maio?
-Pega a Santos Dumont, tem menos transito a essa hora.
-Ok.
-O senhor viaja pra onde?
-Vou passar uma semana em Barcelona para um congresso de medicina.
-Hmm. Interessante. O senhor trabalha em que area?
-Genetica.
-Entendo. Qual o seu nome, senhor? Acho que o reconheço de algum lugar...
-Meu nome e Marco-Antonio Dantas.
-Oh, sim. O conheço. Minha afilhada fez uma pesquisa junto com o senhor. Ela trabalha no mesmo lugar.
-Sua afilhada e a Ana Isabel?
-Isso mesmo.
-Ah, sim. Conheço ela. Um amor de menina, muito simpatica.
-A Ana fala muito do senhor. Diz que e inteligente, estudado, muito simpatico tambem. Ela diz que tem inveja da sua familia por ter alguem tao especial.
-E, antes fosse. Moro sozinho. Minha vida se resume ao meu trabalho mesmo.
-O senhor nunca quis se casar? Ter alguma companhia, entende?
-Querer eu sempre quis, mas nunca achei ninguem de quem gostasse.
-Que pena. O senhor deveria pensar nisso. Se nao quiser ir muito rapido, compre um cachorro. E uma otima companhia. Eu por exemplo, moro assim por anos da minha vida assim.
-Sim, sim. E que eu viajo muito, nem tem como cuidar de um cachorro com a vida que eu tenho.
-Entendo. Bem, quando o senhor voltar do congresso, fale comigo. Meu telefone esta no cartao do taxi ai atras. Eu tenho alguns amigos de quem o senhor com certeza vai adorar. Sao gente muito boa. Agente combina de sair um dia desses.
-Sera um prazer. Ah, eu fico aqui. Obrigado.
-De nada.
-Quanto deu?
-Vinte e quatro e sessenta.
-Humm. Aqui esta.
-Obrigado. Boa viagem, senhor Dantas.
-Obrigado, ate mais.
-Ate.
(sai o passageiro do taxi, o taxista faz o retorno e pega o caminho para o centro novamente. Começa a escurecer.)
(Meia hora depois, um grupo de pessoas chama o taxi)
-Boa noite. Para onde?
-Ah, sei la!
-Sei la nada -responde outro- agente nao ia para a praça da alvorada?
-De onde agente ia para a praça? Agente ia e para o centro.
-Shhhhhhhh!!! Nao façam barulho eles podem ouvir -diz um terceiro.
-Eles quem?
-Po, nao faco ideia, mas eles podem ouvir mesmo assim.
(Caem todos na risada. O taxista observava atentamente a conversa do grupo. Visivelmente estavam todos bebados)
-Com licenca, para onde os senhores vao?
-Para a casa do Fabio! -diz um.
-E. Para a casa do Fabio -responde o outro.
-Onde fica a casa do Fabio? -Pergunta o taxista.
-Rua Rosas de Mello, n°334.
(Pelo caminho, o taxista nao troca um palavra com o grupo. Ja eles, conversam, berram, dancam, brigam, riem.)
-Aqui, chegamos -diz o taxista.
-Beleza. Vem gente.
(Todos sairam do taxi e correram em direçao a casa.)
-Espera! Falta o dinheiro! -Gritava o pobre taxista.
-Aeh! Ta aqui, toma.
-Ok. Aqui o troco.
(Nem adiantava mais. O grupo ja estava longe.)
-Ei! O troco! Faltou o troco!
(O grupo ignorou. O taxista tentou correr atras deles, inutilmente)
(Agora dirigindo pelas ruas vazias, o taxista ligou o walkie-talkie)
-Alo. Aqui e o taxi 00604. Algum trabalho pra mim?
-Alo taxi 00604. Nao, acho que nao. Essa hora a cidade nao tem muita gente. Pode ir pra casa.
(Voltando para casa, o taxista encontra uma mulher atravessando a rua com as maos no rosto. Chorando. O taxi freia violentamente procurando nao atingir a mulher. O taxista para o carro ao lado dela.)
-Ei, moça. E perigoso atravessar a rua assim. Pode acontecer um acidente. Tome cuidado, viu?
-E o que você tem haver com isso? -pergunta violentamente a mulher.
-Nada absolutamente nada, so me preocupei com a senhorita.
-E quem disse que eu preciso da preocupaçao alheia? Se um carro me atropelasse, seria otimo!
-Nao, nao diga isso. Que coisa horrivel de se dizer.
-E isso mesmo.
-Mas porque a senhorita esta tao nervosa? O que aconteceu?
-Ah, N...Nada. Nao e da sua conta.
-Ta bem, se nao quiser falar, nao precisa. Escuta, se quiser, eu estou indo para a zona leste. Posso lhe oferecer uma carona.
-Nao, obrigada. -responde a moça, secamente.
-Ta bem, entao. Se cuide. Boa noite.
(Assim que o taxi arrancou e andou alguns poucos metros. a mulher comecou a correr atras dele, gritando)
-Ei! Espera! Para o carro!
-Que foi, senhorita?
-Mudei de ideia, quero a carona sim. Pode parar perto do teatro municipal. Moro la perto.
-Certamente.
-Moço...
-Sim, senhorita?
-Porque me ofereceu a carona?
-Porque você parece um pouco nervosa, quis ajudar de alguma maneira.
-Mas porque?
-Como assim?
-Porque voce esta me ajudando, assim, de graca?
-Porque nao deveria? Tudo que você faz de bom para os outros, volta pra você. Bem como tudo o que voce faz de mal para os outros tambem volta.
-Ah, tomara que isso seja verdade.
-Porque, senhorita?
-Eu estava voltando pra casa com uma amiga minha quando vieram uns caras e nos assaltaram. Levaram minha bolsa, meu carro, meu dinheiro, minha chave, tudo. Nem sei mais o que fazer.
-Ei, calma, senhorita. Tem uma delegacia aqui perto. Se quiser, eu te deixo la para prestar queixa.
-Você faria isso?
-Com certeza, e aqui perto. Ja estamos chegando.
(minutos depois)
-Chegamos.
-Obrigada.
-Disponha. Se quiser, eu te espero aqui para te levar para casa depois.
-Ai, muito obrigada moço, nem sei como agradecer.
(alguns minutos depois, a mulher sai da delegacia)
-Eles disseram que assim que tiverem noticia dos meus pertences, eles ligam.
-Que bom. Aposto que eles acham tudo em menos de uma semana.
-Tomara.
-A senhora mora aonde, exatamente?
-Do lado do teatro municipal, e um preido amarelo.
-Aquele ai?
-Sim, sim. Aquele. Muito obrigada, moço, nem sei o que dizer.
-De nada, que isso. Sempre que precisar, estou as ordens, senhorita.
-Obrigada, boa noite.
-Boa noite.
O taxista chega em casa, tira os sapatos. O cachorro vem fazer-lhe festinhas saudando sua chegada, como de costume. O taxista, faz carinho no cachorro, vai a cozinha, pega uma xicara de café. Liga a TV, assiste a alguns programas, tesliga a TV, toma um banho, poe os chinelos. Comeca a chover. O taxista desliga as luzes, vai dormir. O cachorro o acorda, aterrorisado com os relampagos. O dono o acaricia, o acalma, e volta a dormir.
-Tenho que trocar de profissao -pensava- Fico cheio de angustias com os meus passageiros, sera que essa chuva vai estragar o fim de semana do casal que ia para a praia? Sera que a mae da Marina leu Poliana para ela? Sera que ela gostou? E se o senhor Dantas ficar o resto de sua vida sozinho? Que triste. Os jovens bebados, sera que ficaram bem? A senhorita da bolsa, tomara que consiga recuperar tudo o que perdeu.
E foi pensando nisso que o taxista, homem preocupado, homem honesto, homem bom, pegou no sono e dormiu.
PS.: Por favor, nao reparem na falta de acentuacao no conto. O Computador em que este foi escrito é estrangeiro. Na verdade, ocomputador tem alguns criterios (ate agora por mim desconhecidos) de selecao meio malucos. Ele acentua algumas palavras automaticamente, mas outras ele simplesmente ignora. Ainda nao entendi a ideolocia dessa maquina aqui, mas enfim. Nao reparem por favor.
Beijos

Um comentário:
Realmente, um taxista tem muita historia pra contar. hahaha e as pequenas coisas fazem toda a diferença, afinal.
Postar um comentário