De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
segunda-feira, 27 de dezembro de 2010
sábado, 25 de dezembro de 2010
Feliz Natal!

Beijos e Feliz Natal!
terça-feira, 21 de dezembro de 2010
Mar Português - Fernando Pessoa
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quere passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quere passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
quinta-feira, 9 de dezembro de 2010
Frente de batalha russa
Andava sem rumo, numa terra cinzenta, escura, sem verde e sem esperança, onde tantas foram as mortes, onde tantas famílias perderam seus maridos, irmãos, filhos, amigos. Andava a esmo, esperando alguém que pudesse dizer-lhe o que houvera ali. Parecia, além de tudo, irônico. Tão meiga era a menina, vestida em num vestido azul de setim, desgastado pela caminhada, tão exaustiva que fora. Andava inconsequentemente por aquelas terras, procurando por alguém. Não mantia-se mais em pé. Deitava no chão, dormia. Acordava novamente, a fome lhe corroendo por dentro. Sete anos apenas. Três dias andando. Pensava na figura da mãe, dos dois irmãos mais velhos, o quão preocupados estariam? Fugira por uma justa causa, pensava, iria alcançar seu objetivo. Assim que conseguisse -e era, para ela, certo de que ia conseguir- voltaria para o conforto e simpatia de sua casinha, seu lar. De repente, é encontrada por um soldado japonês, que mesmo sendo da nação rival, não sabia de nada, muito menos da nacionalidade da menina russa. Pergunta-lhe, em japonês sempre, porque tão linda menina, de cabelos claros e olhos azuis, andava numa frente de batalha. Sasha, a menina, não respondeu-lhe, por falta de conhecimento do idioma. Perguntava-lhe o soldado, a mesma coisa, desta vez em turco. A menina, por ter parentes da mesma região, entendeu e respondeu-lhe. Procurava o pai, general russo que tinha ido à uma terrível guerra contra a nação japonesa. Fazia um ano que não voltara. Sasha, desesperada, fugiu de casa à sua procura. Decidida a não voltar se não o encontrasse. O soldado, ainda não sabendo da identidade -nem da menina nem do pai- perguntou a ela o nome deste. Mikhail Dmítrievitch. O soldado então se lembrou. Estivera naquela batalha. Lembrava-se de ter dado um tiro serteiro em um general russo de mesmo nome. O general fez ao soldado um ultimo pedido. Depois de tê-lo feito, caiu morto. O soldado japonês se lembrou disso, contou à menina que havia visto seu pai. Além disso, falado com ele. 'Sasha', disse o soldado na língua turca, 'seu pai falou de você. Ele pediu para eu te dar uma coisa quando te encontrasse'. E naquele momento, esquecendo todas as rivalidades e hipocrisias que cercavam Rússia e Japão, o soldado japonês atendeu ao último pedido do General. E abraçou, com todo o seu amor, a menina russa que chorava em seus braços.

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